EXERCÍCIOS FUNCIONAIS E PROPRIOCEPTIVOS: SUA IMPORTÂNCIA
PARA A PREVENÇÃO DE LESÕES DO SURF.
PARA A PREVENÇÃO DE LESÕES DO SURF.
Galera do surf ou não!
... Excelente texto sobre como prevenir lesões , montar um treino especifico e potencializar a performance .
A origem do Surf não segue uma ordem cronológica (SOUZA, 2004).
Este esporte teve seu desenvolvimento em três locais: Peru, Polinésia
Francesa e o Havaí. Segundo a teoria do norueguês Thor Heyerdahl (1965) existem evidências que esse desenvolvimento possa ter ocorrido após viagens pelo Pacífico partindo de antigos povos das Américas em direção à Polinésia
Francesa. Estes povos utilizando apenas seus barcos confeccionados com uma espécie de junco – denominada “totora” – navegaram através do Oceano Pacífico seguindo a corrente marítima de Humboldt (Corrente do Peru) em direção às ilhas do Pacífico. Zevallos (1999) destaca que os povos ameríndios
denominados Mochicas e Chimus (Séc. II A.C. 750 D.C. e 1000 a 1470 D.C respectivamente) utilizavam para a pesca embarcações chamadas “caballitos
de totora”, devido à maneira em que se “montava” para navegar. Estas embarcações são consideradas as antecessoras das pranchas de Surf Havaianas e ainda podem ser encontradas na região norte do Peru. Ao retornar da pesca estes povos “surfavam” as ondas até chegar à praia. Ainda
explicando a evolução do Surf, Souza (2004) descreve uma atividade praticada já na Polinésia Francesa chamada “Paipo” – semelhante ao bodyboard – os
surfistas de “paipo” usavam como prancha uma tábua de madeira de no máximo 1,5m e assim deslizavam nas ondas ainda deitados. Com a imigração
ao Havaí, esta arte evoluiu para uma posição “de pé”, ainda mais desafiadora.
Após um período de quase desaparecimento devido à repressão religiosa no
Havaí, o esporte volta ao seu desenvolvimento graças ao havaiano Duke Paoa
Kahanamoku, denominado o “Pai do Surf”, que popularizou a Natação e o Surf
pelo mundo, realizando apresentações na América (1912); Austrália (1914) e
na Nova Zelândia (1915).
O surf em pranchas pequenas teve um crescimento significativo na
sua popularidade durante os últimos anos. Steinman (2003) completa que no Brasil a prática do surf se expandiu por entre todas as classes econômicas e profissionais. A prática do surf requer elevado nível de habilidade neuromuscular e envolve movimentos dos membros superiores, inferiores,
abdômen e coluna vertebral. As capacidades físicas consideradas importantes no surf descritas por Mendez-Villanueva e Bishop (2005) são: agilidade, equilíbrio, força muscular, flexibilidade e tempo de reação. Ainda no mesmo
estudo a modalidade é definida por períodos de exercícios intermitentes, com diferenças claras entre a demanda de membros superiores (i.e. remando) e membros inferiores (i.e. surfando).
Martoccia (2010) explica que desde o momento em que os humanos
adotaram a posição bípede, usa-se continuamente os músculos e o feedback
proprioceptivo para permanecer estáveis. Schmidt e Wrisberg (2010)
completam que a propriocepção provém das informações sensoriais de órgãos
sensoriais nos músculos e nas articulações. No surf estas informações
sensoriais da localização dos músculos e articulações são muito importantes
para a manutenção e recuperação do equilíbrio durante a prática. Everline
(2007) afirma que no surf se o equilíbrio não é alcançado, a prancha irá afundar
na água e causará uma queda no surfista com risco de lesão. Exercícios
profiláticos de fortalecimento de joelho beneficiarão tantos os surfistas novatos
quanto os intermediários. Isto também justifica a prescrição de exercícios na
prancha de equilíbrio (balance board) e Bola Suíça durante a fase de
condicionamento físico.
O surf competitivo é relativamente seguro em relação a outros
esportes, com uma taxa de 6,6 lesões significantes a cada 1000 horas de competição (NATHANSON et al, 2007). Entretanto, Steinman (2003) fala que
algumas características biomecânicas do surf podem estar associadas às lesões, tais como: movimentos repetidos da remada, hiperextensão da coluna e do pescoço durante a posição pronada sobre a prancha, os movimentos repetidos de rotação e compressão dos discos intervertebrais e a posição de
pé, onde o surfista mantém os joelhos flexionados sobrecarregando os
ligamentos mediais. Devido a esses “vícios posturais” adotados pelos surfistas,
este trabalho tem como objetivo descrever e relacionar os exercícios funcionais e proprioceptivos, baseados no treinamento funcional, que podem auxiliar na prevenção das lesões ocasionadas pela prática do surf.
Lesões no Surf
O surf, comparado com outros esportes, possui uma taxa de lesões
considerada pequena. Nathanson et al. (2007) relatam que a taxa de lesões no surf é de 6,6 lesões significantes a cada 1000 horas de competição. Na pesquisa de Base et al. (2007) pode-se observar que a taxa de lesão calculada é de 0,76 lesão para cada 1000 dias de prática da modalidade. Já Allen et al.
(1977) relatam que o risco de lesão no surf é de um em cada 17.500 dias de prática. Este último dado apresenta um baixo número de lesões. Provavelmente com o passar dos anos, o aumento no número de praticantes e o desenvolvimento das pranchas e das manobras podem ter contribuído para o aumento desses valores.
As lesões mais comuns no surf são as entorses e estiramentos,
seguidas de lacerações, contusões, e fraturas. Quanto ao mecanismo da lesão
Nathanson et al. (2007) relatam que o impacto com a prancha causa 29% das lesões, 24% são pelo contato com o fundo do oceano, 16% pelo próprio movimento do surfista, e 12% da força hidráulica das ondas. Diferentemente dos dados de Base et al. (2007) que destacam a prancha sendo responsável
por 51,4% das lesões, a realização das manobras 40,7% e o fundo teve
participação em 7,7% das lesões. Deve se destacar, contudo, o local da prática como um fator agravante das lesões. Os diferentes fundos, que apesar de proporcionar as melhores ondas, podem ocasionar as piores lesões. O tipo de
fundo (marítimo) mais comum é o fundo de areia. Outros tipos de fundo são o de coral e de pedra, estes, menos profundos, com um maior potencial de lesão no caso de queda do surfista, ocasionando lacerações, cortes, contusões, fraturas devido ao impacto e até mortes.
Boa parte das lesões ocasionadas pela falta de habilidade, pela
fadiga e pelo nível de condicionamento físico do surfista podem ser
minimizadas com um programa de treinamento das capacidades físicas utilizadas no surf. Este programa de treino deverá trabalhar a capacidade aeróbia e anaeróbia, equilíbrio dinâmico e recuperado, força dinâmica, propriocepção, flexibilidade, potência, resistência muscular, agilidade, tempo de reação e coordenação. Todas essas capacidades físicas sendo desenvolvidas em sinergia poderão fazer com que o surfista melhore seu desempenho durante a prática evitando que quedas ou manobras mal executadas possam
lhe causar alguma lesão.
Estrutura dos órgãos proprioceptivos
A propriocepção é definida por Schmidt e Wrisberg (2010) como a
informação sensorial que vem principalmente de fontes nos músculos e nas
articulações de movimentos do corpo. Esse tipo de informação provém das
posições articulares, das forças produzidas nos músculos e a orientação do26
corpo no espaço e são importantes para os atletas de modalidades em que o
equilíbrio e a orientação do corpo são essenciais. Estas informações são
transmitidas pelo sistema neuromuscular por diferentes estruturas do corpo
humano. Uma delas localizada no ouvido interno, o aparelho vestibular, detecta
os movimentos da cabeça, é sensível em relação à força da gravidade e auxilia
na manutenção da postura e do equilibrio.
Outras estruturas responsáveis pelas informações sensoriais são
descritas por Powers e Howley (2005, p. 158-159). Os receptores musculares denominados fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi (Figura 8). Estão
localizados nas fibras musculares e na intersecção dos músculos e tendões, respectivamente. O fuso muscular tem a função de detectar uma mudança no comprimento do músculo. Quanto mais específica a função do músculo (movimentos finos) maior é a quantidade de fusos. A função principal do fuso muscular é a manutenção da postura e regulação dos movimentos. Figura - Órgão tendinoso de Golgi - Adaptado de Powers e Howley (2005)
O órgão tendinoso de Golgi tem como função verificar as mudanças nas tensões nos tendões ocasionadas pelas contrações musculares. Eles funcionam como dispositivos de segurança limitando a quantidade de força, evitando possíveis lesões. Sua sensibilidade é tão grande que podem responder à contração de uma simples fibra muscular. Possuem um alto limiar para estímulos mecânicos, uma adaptação lenta e são inativos em articulações
imóveis. Quando estimulados inibem a contração dos músculos agonistas e
excitam os músculos antagonistas.
Treinamento funcional
O treinamento funcional pode ser descrito como um meio de
aprimoramento da capacidade funcional do corpo humano, melhorando todas as qualidades do sistema musculoesquelético refletindo nas atividades do diaa-dia ou ainda nos gestos esportivos específicos (CAMPOS e CORAUCCI
NETO, 2008). Este método de treinamento tem como base treinar a “função” desempenhada pelo corpo em uma atividade específica.
O treinamento funcional que é aplicado atualmente como uma
metodologia de desenvolvimento do condicionamento físico e das capacidades
físicas (equilíbrio, força, velocidade, coordenação, flexibilidade e resistência)
não é uma novidade. A funcionalidade do corpo dos homens primitivos sempre
foi uma questão de sobrevivência, seguindo este pressuposto, o treinamento funcional foi baseado nos movimentos fundamentais do homem primitivo:
agachar, levantar, empurrar, puxar e girar. Antes de ser criado um programa de
treinamento funcional deverão ser observados os padrões de movimentos do esporte em questão e utilizar o treinamento para reforçá-los (WIKIPÉDIA, 2010;
BOYLE, 2003). No surf podem ser observados os movimentos de puxar e empurrar durante a remada, empurrar e levantar durante o drop, e agachar e girar durante as manobras sobre a onda.
A maioria dos movimentos realizados na prática são movimentos integrados que recrutam grande parte do sistema
muscular do surfista. Além dos movimentos utilizados, o treinamento funcional também irá trabalhar o fortalecimento da musculatura do “core” que é descrito por este método como o centro de produção de força no corpo. O “core” é formado pelos músculos: transverso abdominal, oblíquo interno e externo, multífidus, eretor da espinha, ílio-psoas, bíceps femoral, adutor, glúteo máximo
e reto abdominal. Pode também ser descrito como uma estrutura que envolve a coluna vertebral, região abdominal, cintura escapular e cintura pélvica.
Segundo D’Elia (2010) estes músculos que compõem o “core” são
responsáveis pela estabilização corporal. É nesta região corporal que deve ser iniciada a produção de força durante todos os movimentos. No surf o “core” deve estar sempre bem treinado para que haja uma maior eficiência dos movimentos de rotação e retomada de equilíbrio durante as manobras.
O treinamento funcional na preparação física do surf pode ser utilizado como uma ferramenta de desenvolvimento da musculatura de estabilização corporal e também como uma forma de treinar os movimentos que são realizados na prática. Através deste método de treinamento o surfista poderá desempenhar suas funções no
surf com uma maior destreza e precisão, minimizando a probabilidade de lesões em situações adversas (quedas).
Fonte: Vale Fitness & Wellness
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