sábado, 2 de março de 2013

Acupuntura ameniza sintomas do Parkinson

 
 Exames de imagem mostram que, após as sessões de agulhadas, áreas do cérebro atingidas pela doença retomam sua atividade.
 
A descoberta vem da Universidade de Seul, na Coreia do Sul. Os pesquisadores identificaram sinais de atividade em áreas da massa cinzenta afetadas pela doença depois de estimularem com agulhas um ponto na perna de indivíduos com o problema. A comprovação foi feita por meio de imagens de ressonância magnética. "A acupuntura pode promover a liberação de neurotransmissores como a dopamina, que estão vinculados à melhora dos sintomas", explica Hildebrando Sábato, presidente do Colégio Médico de Acupuntura. Mas não são apenas os parkinsonianos os beneficiários da técnica. Outro estudo, realizado com 18 mil pessoas ao redor do globo, indica que o método auxilia a aplacar dores crônicas e até mesmo aquelas típicas de quadros de enxaqueca.
 
Agulhas e neurônios
Como o método auxilia no tratamento do mal
1. Da perna para o cérebro
O ponto GB34, conhecido como yanglingquan, fica logo abaixo do joelho, na lateral interna da perna.







2. Despertando áreas atingidas
As imagens mostraram atividade neural no gânglio basal, no tálamo, no núcleo caudado e na substância negra, regiões do cérebro acometidas pelo Parkinson.

Estudos mapeiam seus efeitos no cérebro e revelam seu poder contra as dores e os transtornos emocionais.




Se ainda havia algum ocidental desconfiado que, a exemplo de São Tomé, precisava ver para crer o resultado de uma porção de agulhas finíssimas sobre o corpo, ele provavelmente deixará suas suspeitas de lado ao saber o que andam desvendando neurocientistas ao redor do globo. Na Inglaterra, uma equipe da Universidade de York acaba de exibir, por meio de imagens de ressonância magnética, que uma espetada em um ponto da mão reduz a atividade de áreas do cérebro que regem a percepção da dor. Enquanto isso, nos Estados Unidos, um experimento com camundongos da Universidade de Rochester endossa o efeito analgésico da técnica oriental ao provar que ela estimula a liberação de uma molécula, a adenosina, responsável por aliviar o desconforto. São provas, vistas a olho nu ou sob a lente do microscópio, que permitem à ciência deste canto do mundo reconhecer o que os sábios chineses já apregoavam sobre o método que ganha milhões de pacientes no Brasil e no resto do Ocidente. 
 
 "A acupuntura trabalha com estímulos em determinadas regiões do corpo que exercem um reflexo sobre outras", explica a médica acupunturista Angela Tabosa, chefe do Laboratório de Pesquisa Experimental em Acupuntura da Universidade Federal de São Paulo. "Essas respostas são, por sua vez, intermediadas pelo sistema nervoso", completa. É que as agulhas inseridas disparam impulsos que viajam pela rede nervosa até provocarem reações no cérebro. Esse mecanismo é imediato e, por interferir na massa cinzenta, surte efeitos mais duradouros. "A técnica tem uma ação sobre a musculatura, ajudando-a a relaxar, e incita, na medula, a produção de substâncias que inibem a passagem dos impulsos dolorosos", conta Dirceu de Lavôr Sales, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. "No cérebro, ela induz a liberação de neurotransmissores com função analgésica e outros por trás da sensação de bem-estar." Dessa forma, alfinetam as dores, espetam, ou melhor, espantam o estresse e ganham papel de protagonista ou ator coadjuvante no desarme de uma lista de problemas.

Para botar no papel todas as indicações da acupuntura, seria preciso preencher um extenso pergaminho da China antiga. As agulhas, é claro, não são uma panaceia, mas surpreendem até os olhos céticos. Em uma experiência com ratos que sofreram lesões na coluna vertebral da Universidade Kyung Hee, na Coreia do Sul, por exemplo, os animais que foram submetidos às espetadas se recuperaram e voltaram a andar mais cedo do que os bichos livres das picadas. A acupuntura coibiu inflamações e impediu, assim, a destruição progressiva de células nervosas da coluna. É esse poder anti-inflamatório, aliás, que garante à terapia lugar de destaque no combate a asma, dores crônicas…

Outra virtude da técnica é equilibrar as emoções, debelar a ansiedade e o desânimo e reforçar o adeus aos vícios. "Ao modular a ação da dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer, o método ajuda a suprir a necessidade da droga", explica Angela Tabosa. Nesse sentido, até a obesidade entra na dança. "As agulhas auxiliam a reduzir a compulsão por comida", afirma a pediatra e acupunturista Márcia Yamamura, coordenadora do Centro de Estudo e Pesquisa da Medicina Chinesa, em São Paulo.

As picadas prestam serviço a todas as idades e se revelam generosas às gestantes. Um trabalho da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, aponta que elas aliviam a depressão durante a gravidez. "É uma forma de estimular o organismo a fabricar neurotransmissores como a serotonina, em baixa no distúrbio", explica Dirceu Sales. "Na gestação, a acupuntura também minimiza as náuseas, a azia, a insônia e as dores nas costas", enumera o médico acupunturista João Bosco Guerreiro da Silva, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior paulista.

Mesmo quem não guarda no ventre uma criança ou está são e salvo de doenças pode tirar proveito das agulhas. "O ideal é que elas fossem usadas de modo preventivo, afastando um problema antes de ele se manifestar", opina Angela. Como abafam o estresse, também derrubam o risco de ficar de cama. A garantia de tanto benefício depende, vale frisar, de um terapeuta qualificado. "É um tratamento que deve ser ministrado apenas por médicos e dentistas, que conhecem anatomia e têm capacidade de fazer diagnóstico", avisa Sales. "A acupuntura só é contraindicada quando o profissional não sabe usá-la ou desconhece recursos terapêuticos melhores para o paciente, permitindo, assim, a postergação de problemas que podem ser fatais", alerta Ruy Tanigawa, presidente da Associação Médica Brasileira de Acupuntura. Do contrário, está liberada para entrar em cena, isto é, na sua pele.
 
Aplicações com o aval da medicina ocidental
• alergia
• asma
• dor de cabeça
• dor nas costas
• doenças das articulações
• hipertensão
• fibromialgia
• dores musculares
• gastrite e refluxo
• síndrome do intestino irritável
• constipação
• tensão pré-menstrual e menopausa
• depressão e ansiedade
• gravidez
• sequelas de derrame
• doenças da pele
• obesidade
• endometriose
• insônia
• distúrbios hormonais
• efeitos colaterais da quimioterapia


Para todos os gostos 
Conheça as principais variações do método. Os pontos utilizados são os mesmos, mas nem sempre há necessidade de agulhas

Eletroacupuntura  As agulhas são conectadas a um aparelho que emite correntes elétricas. A ideia é que os estímulos mais intensos possam acelerar a resposta à terapia. A técnica é recomendada no tratamento de dores agudas.

Raio laser
O aparelho é direcionado aos pontos onde seriam inseridas as agulhas. Os terapeutas costumam recorrer a esse método em crianças e no caso de pessoas que têm pavor das espetadas.

Moxabustão
O estímulo é feito por meio do calor, obtido com a queima de uma planta, a artemísia. Pequenos bastões acesos são aproximados das regiões que tradicionalmente receberiam as picadas.
Por sistemas. São as versões que priorizam partes do corpo para conseguir respostas sobre todo o organismo. Entre as mais famosas, estão a auriculopuntura, que usa pontos na orelha, e a craniopuntura, que se vale do couro cabeludo.


Uma técnica, vários usos

No dentista
A acupuntura pode ser requisitada antes ou depois do tratamento dentário, diminuindo o nervosismo ou possíveis dores mais tarde. É coadjuvante no controle de problemas de oclusão.

No esporte
As agulhas são convocadas para minorar dores musculares, ajudar na recuperação das lesões e aperfeiçoar o desempenho do atleta.

Na anestesia
Como tem um efeito sobre a medula, a acupuntura corta, temporariamente, a transmissão dos estímulos dolorosos. Por enquanto, é mais empregada em procedimentos de pequeno porte.


As agulhas em ação
Entenda o que acontece no corpo quando a gente se submete a uma sessão de acupuntura

O mapa das espetadelas. Nascida na China há cerca de 4 mil anos, a acupuntura preconiza a restauração ou manutenção do equilíbrio energético no organismo. Os fundadores da medicina tradicional chinesa mapearam, no corpo humano, trajetos por onde a energia, batizada de chi, circularia — os ocidentais buscam traduzir por chi o ATP, combustível das nossas células. Esses caminhos, chamados de meridianos, se referem a órgãos vitais como o estômago e os pulmões e são formados por vários pontos. É em cada um deles que se insere a agulha. “São 365 pontos tradicionais e centenas de outros que foram sendo descobertos com o tempo. Cada um deles exerce uma função, que é restrita a um órgão ou possui diversas respostas sobre o corpo”, conta Angela Tabosa.


As agulhas, descartáveis e ligeiramente mais grossas do que fios de cabelo, são inseridas em pontos específicos. Elas ultrapassam toda a camada da pele até chegar à musculatura. A picada pode passar batida ou causar um leve incômodo.


A ação terapêutica da acupuntura depende de que as agulhas atinjam centenas de terminações nervosas. Depois que o sistema nervoso é acionado, há um efeito relaxante sobre os músculos recém-espetados.

 
Estimuladas, as terminações nervosas enviam impulsos em direção ao cérebro. Antes disso, porém, a mensagem repercute na medula, instigando a liberação de substâncias que impedem a passagem da sensação dolorosa.
 

Da medula são enviados sinais até a massa cinzenta. Ali, ocorrem alterações nas áreas que gerenciam a dor e as emoções. Daí, neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, responsáveis pelo bem-estar, e a betaendorfina, de poder analgésico, passam a ser liberados.




Um comentário:

  1. Gostei muito dessa reportagem.Obrigada pelas informações.
    Tânia - Belo Horizonte

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