A
flexibilidade consiste na capacidade motora relacionada com a amplitude
de movimento atingida por cada articulação. A flexibilidade sofre
decréscimo com a idade; durante a adolescência, devido ao estirão de
crescimento puberal, ocorre considerável perda dessa característica.
Sabe-se, também, que atletas de futebol e futsal, como resultado dos
programas de fortalecimento visando o gesto do chute, tendem a
apresentar considerável encurtamento da musculatura posterior da coxa, o
que promove perda de rendimento e predispõe o atleta a lesões
musculares. Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito
sobre a flexibilidade proporcionado por um programa de Pilates®
em uma equipe de futsal da categoria juvenil (17-20 anos), considerada
uma população altamente propensa a limitações dessa capacidade e que
pode usufruir de inúmeros benefícios com o incremento da mesma. Para
tal, dividiu-se o grupo de atletas em grupo Pilates (GP, n = 6) e grupo
controle (GC, n = 5). Optou-se por avaliar a flexibilidade dos atletas
com dois métodos (flexímetro e banco de Wells). Realizaram-se avaliações
em três momentos distintos: pré (24 horas antes do início do programa),
pós-imediato (24 horas após o fim do programa) e pós-tardio (15 dias
após o fim do programa). O programa foi realizado em três sessões
semanais de aproximadamente 25 minutos, durante quatro semanas. Os
resultados obtidos com o presente estudo comprovam que o protocolo de
treinamento com o método Pilates® empregado pelos
pesquisadores conseguiu incrementar a flexibilidade dos atletas juvenis
de futsal. Tal programa apresentou efeitos agudos, representados pelo
aumento estatisticamente significante da flexibilidade no pós-imediato
(p < 0,05 no banco de Wells e p < 0,01 no flexímetro) e crônicos,
observados no ligeiro declínio (não significativo estatisticamente, p
> 0,05) no período pós-tardio para ambos os métodos. Sugere-se que
mais estudos sejam realizados com o método Pilates® a fim de elucidar todas as possibilidades de aplicação dessa modalidade terapêutica.
Palavras-chave: Esporte. Adolescentes. Prevenção. Encurtamento muscular.
INTRODUÇÃO
A palavra flexibilidade é derivada do latim flectere ou flexibilis,
"curvar-se". Talvez uma das definições mais simples seja a amplitude de
movimento disponível em uma articulação ou grupo de articulações(1), sendo limitada por ossos, músculos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares(2).
Ao
contrário do que ocorre com a musculatura, a capacidade de alongamento
de tendões, ligamentos e cápsulas é muito limitada, devido a sua função
de estabilização articular(3). Weineck(4)
descreveu a influência dos diferentes tipos de tecidos que contribuem na
flexibilidade para resistência articular: cápsula e articulação, 47%;
musculatura, 41%; tendões, 10%; e pele, 2%.
A
flexibilidade é uma capacidade individual, pois depende de fatores
como: herança genética, sexo, idade, volume muscular e adiposo, além de
fatores externos como treinamento, temperatura ambiente, etc.(5).
Essa capacidade vai se perdendo com a idade, principalmente durante a adolescência e, acentuadamente, no sexo masculino(6).
Acredita-se que até os 17 anos a flexibilidade possa ser recuperada e,
inclusive, incrementada por programas de treinamento adequados. Após
essa idade, tanto para homens quanto para mulheres, essa capacidade
tende a reduzir-se progressivamente(5-6).
Com
o aumento da flexibilidade muscular, os exercícios podem ser executados
com maior amplitude de movimento, maior força, mais rapidamente, mais
facilmente, com maior fluência e de modo mais eficaz(5,7). Enfim, a falta de flexibilidade é um fator limitante ao desempenho esportivo, sendo um fator facilitador de lesões musculares(5,8-10).
O
futebol de salão (futsal) é um esporte em ascensão mundial, atraindo
cada vez mais adeptos. Devido à facilidade de encontrar espaços para sua
prática, é um dos esportes mais difundidos no Brasil, sendo jogado por
mais de 12 milhões de brasileiros, segundo dados da Confederação
Brasileira de Futebol de Salão – CBFs(11).
Grau(10)
afirma que, quando adolescentes entram em centros de formação
futebolísticos, os treinamentos intensos, a musculação e, talvez,
programas de flexibilização mal-elaborados formam um atleta com pouca
flexibilidade. Conseqüentemente, o gesto esportivo (no caso, o chute)
apresenta-se menos preciso e menos potente, justamente pela deficiência
de flexibilidade, especialmente na musculatura posterior de coxa
(isquiotibiais).
Este
grupo muscular, juntamente com o grupo posterior da perna
(gastrocnêmios), são os mais propensos a estiramentos musculares (lesão
gerada pelo alongamento exagerado das fibras ou contrações musculares
bruscas). Estes músculos caracterizam-se por ser biarticulares e por
solicitação excêntrica em grande parte do tempo (por exemplo, os
isquiotibiais na fase de desaceleração do chute e os gastrocnêmios na
aterrissagem)(12).
As
principais técnicas para o desenvolvimento da flexibilidade são:
balística, alongamento, estática e FNP (facilitação neuromuscular
proprioceptiva)(5). Entretanto, técnicas como o Pilates® vêm surgindo como novas opções a serem estudadas, testadas e comprovadas.
A
técnica recebe esse nome por fazer referência a seu criador, Joseph
Pilates (1880-1967). Os primeiros praticantes da técnica foram quase
exclusivamente dançarinos e atletas. No entanto, nos últimos anos, o Pilates® tornou-se um método popular na reabilitação e no fitness.
Nos Estados Unidos, são mais de cinco milhões de praticantes e em uma
simples busca na internet surgem mais de 200 vídeos disponíveis sobre o
assunto(13).
O treinamento de Pilates®
pretende melhorar a flexibilidade geral do corpo e busca a saúde
através do fortalecimento do "centro de força", melhora da postura e
coordenação da respiração com os movimentos realizados. Visando o
movimento consciente sem fadiga e dor, o método baseia-se em seis
princípios: a respiração, o controle, a concentração, a organização
articular, o fluxo de movimento e a precisão(14). É um método
que trabalha com exercícios musculares de baixo impacto contracional,
fortalecendo intensamente a musculatura abdominal(15).
Entretanto, mesmo com os efeitos benéficos proporcionados pela técnica,
existe escassez de estudos acerca dessa modalidade terapêutica,
sobretudo em atletas.
Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito sobre a flexibilidade proporcionado por um programa de Pilates®
em uma população altamente propensa a limitações dessa capacidade e que
pode usufruir de inúmeros benefícios com o incremento da mesma.
METODOLOGIA
O
estudo constituiu-se em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego. A
amostra utilizada foi a equipe juvenil de futsal da Universidade de
Caxias do Sul (UCS), composta por 11 atletas entre 17 e 20 anos (média
de idade de 18,1 anos ± 0,83), estatura média de 175,82cm (± 6,60) e
massa corporal média de 70,18kg (± 6,24).
Previamente
ao início do estudo, dividiu-se aleatoriamente os atletas em dois
grupos. Posteriormente, verificou-se a não existência de diferença
estatisticamente significante em relação à média de idade, estatura e
massa corporal entre os grupos (p > 0,05), a fim de evitar que essas
variáveis pudessem interferir no resultado final do trabalho. Foram
excluídos do estudo atletas que apresentassem histórico de lesão
muscular num período prévio de seis semanas; que não comparecessem às
avaliações e/ou intervenções; ou que não estivessem participando
plenamente das atividades de treinamento da equipe.
O
grupo controle (GC) foi composto por cinco atletas com idade média de
17,8 anos (± 0,84), estatura média de 176,20cm (± 5,22) e massa corporal
média de 68,20kg (± 1,92).
Já
o grupo Pilates (GP) foi constituído por seis atletas com média de
idade de 18,3 anos (± 0,82), estatura média de 175,50 (± 8,07) e massa
corporal média de 71,83kg (± 8,23).
O GC participou apenas das avaliações, não recebendo qualquer tipo de treinamento diferente da rotina do clube esportivo.
O GP, além da realização das avaliações, participou de uma rotina de treinamento com o método Pilates®
durante quatro semanas, com freqüência de três vezes por semana e
duração de aproximadamente 25 minutos por sessão, elaborado e aplicado
por instrutora formada no método Pilates®.
As avaliações foram realizadas 24 horas antes do início do programa de intervenção com o método Pilates®
(denominada como pré), 24 horas após a última intervenção (denominada
como pós-imediato) e 15 dias após a última intervenção (denominada como
pós-tardio). Todas as avaliações foram realizadas sempre no mesmo
horário (17:30h) e sempre previamente aos treinamentos.
O primeiro procedimento de avaliação consistiu na execução do teste de flexibilidade no banco de Wells (da marca Cardiomed),
também conhecido como teste de sentar e alcançar. Nesse teste, o
indivíduo foi posicionado sentado sobre um colchonete, com os pés em
pleno contato com a face anterior do banco e os membros inferiores com
extensão de joelhos e com os quadris fletidos. Posteriormente ao correto
posicionamento, os indivíduos foram orientados a mover o escalímetro do
banco ao máximo que conseguissem, realizando uma flexão de tronco. O
valor obtido para cada tentativa foi expresso em centímetros (cm) e foi
imediatamente anotado pelo avaliador.
O
segundo método de avaliação consistiu na flexão anterior de tronco com o
indivíduo em posição ortostática, com os membros inferiores em extensão
e com a utilização de um flexímetro (produzido pelo Instituto Code de
Pesquisa e Comércio Ltda.) fixado ao tronco do voluntário. Durante essa
flexão de tronco o aparelho indicava o valor obtido em graus (°) pelo
indivíduo em cada tentativa, que foi imediatamente anotado pelo
avaliador.
A
fim de evitar compensações durante a execução de ambos os testes, os
indivíduos tiveram seus joelhos sempre estabilizados pelo avaliador, que
invalidava a tentativa caso alguma irregularidade fosse cometida (como a
flexão dos joelhos, por exemplo).
Todos
os procedimentos descritos acima foram sempre executados da mesma
maneira e na mesma ordem; para cada uma das mensurações (banco de Wells e
flexímetro), os voluntários realizaram três tentativas e apenas a de
maior valor foi considerada na análise dos dados.
As
avaliações foram sempre realizadas pelo mesmo avaliador, que não tinha
conhecimento sobre a alocação dos voluntários do estudo em GC ou GP;
também não foram revelados os resultados das avaliações aos executores
das intervenções até o término do estudo.
O programa de treinamento com o método Pilates®
foi dividido em duas partes: nas primeiras seis intervenções (duas
semanas), foi utilizado um protocolo de exercícios (protocolo 1), que
teve como objetivo habituar os atletas ao método Pilates®;
da 7ª a 12ª intervenção (3ª e 4ª semanas), os atletas foram submetidos a
um protocolo com exercícios mais avançados (protocolo 2).
O protocolo 1 consistiu nos seguintes exercícios: leg circles (20 repetições cada perna); up and down (10 repetições); scissor (10 repetições cada perna); side kick (30 repetições cada perna); the saw (10 repetições); spine stretch (10 repetições); e finalizado com a posição de repouso.
Já o protocolo 2 foi composto pelos seguintes exercícios: scissor (20 repetições); shoulder bridge, com quadril apoiado (10 repetições cada perna); neck pull (10 repetições); the saw (20 repetições); spine stretch (10 repetições); push up (10 repetições); e, por fim, a posição de repouso.
Todos
os indivíduos receberam e assinaram um termo de consentimento livre e
esclarecido, concordando em participar do estudo, sabendo que o mesmo
não implicaria em remuneração financeira, não ofereceria riscos à saúde e
que os dados de identificação pessoal permaneceriam em sigilo.
O
estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da Universidade de Caxias do Sul-UCS, conforme determina a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Para a análise estatística foi utilizado o teste t-student pareado para as análises intragrupo e o teste t-student
não pareado para análises intergrupos. Para ambas as análises foi
estabelecida a significância estatística de p < 0,05.
RESULTADOS
As figuras 3 e 4
demonstram o comportamento do grupo controle (GC) e do grupo Pilates
(GP) nas três etapas do programa na avaliação com o flexímetro: pré,
pós-imediato e pós-tardio.
No
flexímetro, o GC obteve como médias, em relação aos momentos pré,
pós-imediato e pós-tardio, respectivamente: 118,40º (± 18,78), 127,40º
(± 19,32) e 131,80º (± 11,54), não apresentando diferença
estatisticamente significante entre os valores (p > 0,05).
O
GP apresentou nos três momentos os seguintes resultados: 130,83º (±
13,63), 140,17º (± 9,99) e 135,50º (± 13,55). Entre as etapas pré e
pós-imediato, esse grupo apresentou, na avaliação com o flexímetro,
diferença estatística extremamente significante (p < 0,01).
As figuras 5 e 6 mostram o comportamento do GC e do GP nas três etapas do programa na avaliação com o banco de Wells.
No
banco de Wells, o GC obteve como médias 36,08cm (± 5,81), 35,38cm (±
5,46) e 36,08cm (± 4,81), em relação aos momentos pré, pós-imediato e
pós-tardio, respectivamente, não apresentando diferença estatisticamente
significante entre os valores (p > 0,05).
O
GP, nesse método de avaliação, apresentou os seguintes valores: 36,50cm
(± 3,96), 38,83cm (± 5,04) e 37,52cm (± 6,68). Entre os momentos pré e
pós-imediato, os valores apresentaram diferença estatisticamente
significante (p < 0,05).
As figuras 7 e 8 mostram o comparativo dos dois grupos em relação às etapas 1 e 2 do programa (pré e pós-imediato).
DISCUSSÃO
Quando
se utiliza um teste para solicitar fundamentalmente a participação da
flexibilidade dos avaliados, devemos considerar alguns fatores que podem
afetar seus resultados(16). Os hábitos de vida, tipo de
treinamento, além de fatores como a temperatura ambiente e aquecimento
prévio da musculatura, afetam as medidas de flexibilidade(5,16).
A
fim de padronizar ao máximo a condição física dos atletas para os
momentos de avaliação, realizou-se esse procedimento sempre em horários
anteriores ao treinamento, sem ser permitido aos atletas que quaisquer
atividades de alongamento ou aquecimento fossem realizadas previamente.
Não
há uma definição universalmente aceita quanto à flexibilidade dinâmica,
tornando os termos de avaliação do desempenho motor mais voltados à
medida estática. Os procedimentos de medida da flexibilidade podem ser
classificados em métodos diretos (como o flexímetro) e indiretos (como o
banco de Wells)(16).
Não
foram encontrados na literatura dados referentes a medidas de
flexibilidade pela utilização do flexímetro em nenhuma faixa etária, de
atletas ou não atletas. Assim, nossos dados podem servir de base para
futuros estudos.
Quanto à avaliação pelo banco de Wells, Gallahue e Ozmun(6)
mostram dados obtidos por Ross em 1985, em que a população masculina de
18 anos apresentou 38,1cm de flexibilidade de cadeia posterior, dado
ligeiramente superior aos nossos achados (36,29cm, unindo dados dos dois
grupos na fase pré). Após a realização do programa, os atletas do GP
obtiveram um valor médio de 38,83cm, que se assemelha ao descrito na
literatura como normal para a faixa etária; entretanto, os atletas do GC
permaneceram com valores abaixo do estabelecido para a idade.
Os resultados obtidos pela utilização de ambas as modalidades de avaliação sugerem que o programa de treinamento Pilates®
obteve sucesso em seu objetivo de promover o incremento da
flexibilidade dos atletas. A diferença estatisticamente significante (p
< 0,05) encontrada entre os períodos pré e pós-imediato na avaliação
com o banco de Wells, assim como a diferença estatística extremamente
significante (p < 0,01) observada no mesmo período na avaliação com o
flexímetro, confirma a efetividade do protocolo utilizado.
A
avaliação no pós-tardio foi planejada justamente para observar o
comportamento da flexibilidade dos atletas após um período de
interrupção do programa de treinamento. Os dados do GC mantiveram-se na
mesma faixa, não sendo observada diferença significativa em relação às
avaliações pré e pós-imediata. O GP, que havia obtido incremento
significativo de flexibilidade com o programa de treinamento Pilates®,
sofreu um ligeiro declínio (sem diferença estatisticamente
significante), tanto na avaliação pelo flexímetro quanto pelo banco de
Wells. Esses dados sugerem que o protocolo utilizado apresentou efeitos
crônicos sobre a flexibilidade dos atletas que, mesmo sem realizar as
sessões por um período de 15 dias, mantiveram essa capacidade superior
ao potencial apresentado no período pré.
A
utilização das duas modalidades de avaliação pelo presente estudo
serviu, também, para determinar a similaridade dos dados obtidos em cada
fase por cada recurso de avaliação, aumentando a fidedignidade dos
resultados.
Segal et al.(17), assim como o nosso estudo, observaram o incremento de flexibilidade com a utilização do método Pilates®, mensurando o comportamento dessa capacidade pelo teste conhecido como "distância dedo-chão"(18).
Em um total de seis meses de programa, essa distância diminuiu 4,3cm;
ocorreu diminuição de 3,4cm em apenas dois meses, o que demonstrou uma
diferença estatística extremamente significante (p < 0,01) no
incremento de flexibilidade com a utilização do método Pilates® em não atletas.
Donzelli et al.(19) observaram que um protocolo baseado no método Pilates CovaTech,
durante um período de seis meses, reduziu consideravelmente o quadro
álgico de pacientes com dores nas costas; grande parte dessa analgesia
foi obtida com apenas um mês do programa. Os autores ainda citam estudos
de Geweniger (2002) e Anderson e Spector (2000), que demonstram a
efetividade do método.
Quanto aos benefícios que o incremento da flexibilidade pode trazer, muito já fora relatado. Cyrino et al.(20)
salientam que níveis adequados de força muscular e flexibilidade são
fundamentais para o bom funcionamento músculo-esquelético, contribuindo
para a preservação de músculos e articulações saudáveis ao longo da
vida, e que o declínio dos níveis de flexibilidade vai gradativamente
dificultando a realização de diferentes tarefas cotidianas, levando,
muitas vezes, à perda precoce da autonomia.
Guiselini(21)
ressalta que cerca de 70% dos acidentes com idosos são conseqüência da
capacidade diminuída para andar, correr, saltar, associada à diminuição
da coordenação, enfatizando a importância de um treinamento de
flexibilidade também nessa faixa etária.
No meio desportivo, a flexibilidade encontra-se relacionada tanto com as lesões musculares quanto com o desempenho esportivo(5,8-10).
Segundo Grau(10),
quando um jogador deseja melhorar o poder do seu chute, ele logo pensa
em "força", especialmente de quadríceps, buscando esse fortalecimento em
atividades de musculação ou no próprio gesto esportivo. Ou seja, de
qualquer maneira, trabalha contrações de forma concêntrica. Esse tipo de
exercício faz o músculo perder aos poucos a elasticidade, portanto, um
pouco de sua força de reação. Como o efeito é estendido também aos
antagonistas, os isquiotibiais apresentarão certa rigidez, o que
limitará a amplitude do movimento.
Como
resultado, podemos esperar: maior gasto energético para realização dos
movimentos; menor precisão dos movimentos; e maior risco de estiramentos
musculares, especialmente em contrações excêntricas, como a
desaceleração do chute.
Inklaar et al.(22) apresentaram uma correlação significativa entre encurtamento muscular e tendinites/rupturas musclares. Dvorak e Junge(23)
salientam que lesões musculares geralmente apresentam um diagnóstico
difícil, um tratamento lento e complexo, necessitando um prognóstico
reservado, o que dificulta a definição do tempo de afastamento do atleta(12).
No
futebol, esporte com gestos esportivos muito semelhantes ao futsal, as
lesões musculares foram as mais freqüentes (39,2%), sendo a coxa a
região anatômica mais lesionada (34,5%), em um estudo de Cohen et al.(24), com oito equipes profissionais do Brasil durante um período de dois anos.
Em estudo com atletas de futsal no XV Campeonato Brasileiro de Seleções Sub-20, Ribeiro e Costa(11)
encontraram a coxa como parte do corpo mais lesionada (28,12%), sendo o
estiramento muscular um tipo de lesão de considerável acometimento
(9,37%).
Assim,
sabendo-se dos benefícios que a flexibilidade pode proporcionar,
especialmente aos atletas, salienta-se a importância de programas
voltados para o incremento dessa capacidade, sobretudo com atletas
adolescentes, fase em que ocorre declínio acentuado da flexibilidade(5-6) e que ainda é passível de ser revertido(5).
CONCLUSÃO
Conclui-se com o presente estudo que o protocolo de treinamento com o método Pilates®
empregado pelos pesquisadores conseguiu incrementar a flexibilidade dos
atletas juvenis de futsal. Tal programa apresentou efeitos agudos,
representados pelo aumento estatisticamente significante da
flexibilidade no pós-imediato, e crônicos, observados no ligeiro
declínio (sem diferença estatisticamente significante) no pós-tardio (15
dias após o encerramento das sessões).
Portanto, o método Pilates®
mostrou-se uma ferramenta terapêutica eficaz no acréscimo da
flexibilidade de atletas altamente propensos à diminuição dessa
condição, tanto pela modalidade esportiva que praticam, quanto pelo
ciclo vital em que se encontram. É, então, uma importante alternativa na
prevenção e na recuperação de lesões desencadeadas pela diminuição do
comprimento muscular.
Sugere-se que mais estudos sejam realizados com o método Pilates® a fim de elucidar todas as possibilidades de aplicação desta modalidade terapêutica.
REFERÊNCIAS
1. Alter MJ. Ciência da flexibilidade. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora; 1999. [ Links ]
2. Achour AJ. Bases para os exercícios de alongamento. 2ª ed. São Paulo: Phorte Editora; 1999. [ Links ]
3. Farinatti PDTV. Fisiologia e avaliação funcional. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2001. [ Links ]
4. Weineck JN. Treinamento ideal. 9ª ed. São Paulo: Manole; 2001. [ Links ]
5. Sandoval AEP. Medicina del deporte y ciencias aplicadas al alto rendimiento y la salud. Caxias do Sul: EDUCS; 2002. [ Links ]
6.
Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento motor – bebês,
crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora;
2005. [ Links ]
7. Bompa TO. Treinamento total para jovens campeões. Revisão Científica de Aylton J Figueira Jr. Barueri: Manole; 2002. [ Links ]
8.
Witvrouw E, Danneels L, Asselman P, D'Have T, Cambier D. Muscle
flexibility as a risk factor for developing muscle injuries in male
professional soccer players. A prospective study. Am J Sports Med. 2003;31(1):41-6. [ Links ]
9. Blanke D. Flexibilidade: segredos em medicina esportiva. 1ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997. [ Links ]
10. Grau N. SGA – A serviço do esporte: stretching global ativo. São Paulo: É Realizações; 2003. [ Links ]
11.
Ribeiro RN, Costa LOP. Análise epidemiológica de lesões no futebol de
salão durante o campeonato brasileiro de seleções sub-20. Rev Bras Med
Esporte. 2006;12(1):1-5. [ Links ]
12.
Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos esportes – Diagnóstico, prevenção e
tratamento. Rio de Janeiro: Ed. Revinter; 2003. [ Links ]
13.
Chang Y. Grace under pressure. Ten years ago, 5,000 people did the
exercise routine called Pilates. The number now is 5 million in America
alone. But what is it, exactly? Newsweek, USA. 2000;135(9):72-3. [ Links ]
14. Santiago M. Physio pilates. Disponível em: http://www.physiopilates.com. Acesso em: 21 junho 2006. [ Links ]
15. Jago R, Jonker ML, Missaghian M, Baranowski T. Effect of 4 weeks of Pilates on the body composition of young girls. Prev Med. 2006;42(3):177-80. [ Links ]
16. Eckert HM. Desenvolvimento motor. São Paulo: Manole; 1993. [ Links ]
17. Segal NA, Hein J, Basford JR. The
effects of Pilates training on flexibility and body composition: an
observational study. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85(12):
1977-81. [ Links ]
18.
Parret C, Poiraudeau S, Fermanian J, Colau MM, Benhamou MA, Revel M.
Validity, reliability, and responsiveness of the fingertrip-to-floor
test. Arch Phys Med Rehabil. 2001;82(11):1566-70. [ Links ]
19.
Donzelli S, Di Domenica E, Cova AM, Galletti R, Giunta N. Two different
techniques in the rehabilitation treatment of low back pain: a
randomized controlled trial. Eura Medicophys. 2006;42(3):205-10. [ Links ]
20.
Cyrino ES, Oliveira AR, Leite JC. Comportamento da flexibilidade após
10 semanas de treinamento com pesos. Rev Bras Med Esporte.
2004;10(4):233-7. [ Links ]
21. Guiselini M. Total fitness. São Paulo: Phorte Editora; 2001. [ Links ]
22.
Inklaar H, Bol E, Schmikli SL, Mosterd WL. Injuries in male soccer
players: team risk analysis. Int J Sports Med.
1996;17(3):229-34. [ Links ]
23.
Dvorak J, Junge A. Football injuries and physical symptoms. A review of
the literature. Am J Sports Med. 2000;28(5 Suppl):S3-9. [ Links ]
24. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. Lesões ortopédicas no futebol. Rev Bras Ortop. 1997;32(11):940-4. [ Links ]
Fonte:
Flávia BertollaI; Bruno Manfredini BaroniII; Ernesto Cesar Pinto Leal JuniorIII; José Davi OltramariI
IEstudante do Curso de Fisioterapia da Universidade de Caxias do Sul (UCS)
IIEstudante do Curso de Fisioterapia da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Estagiário do setor de Fisiologia do Exercício do Laboratório do Movimento Humano da Universidade de Caxias do Sul (LMH-UCS)
IIIDoutorando em Ciências Cardiovasculares (UFRGS). Fisioterapeuta. Docente da Disciplina de Fisioterapia Desportiva do Centro Universitário La Salle (Unilasalle), Canoas, RS. Docente da Disciplina de Monitoramento da Funcionalidade do Movimento Humano na Adolescência da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul, RS. Coordenador do Setor de Fisiologia do Exercício e Pesquisador do Laboratório do Movimento Humano da Universidade de Caxias do Sul (LMH-UCS), Caxias do Sul, RS
IIEstudante do Curso de Fisioterapia da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Estagiário do setor de Fisiologia do Exercício do Laboratório do Movimento Humano da Universidade de Caxias do Sul (LMH-UCS)
IIIDoutorando em Ciências Cardiovasculares (UFRGS). Fisioterapeuta. Docente da Disciplina de Fisioterapia Desportiva do Centro Universitário La Salle (Unilasalle), Canoas, RS. Docente da Disciplina de Monitoramento da Funcionalidade do Movimento Humano na Adolescência da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul, RS. Coordenador do Setor de Fisiologia do Exercício e Pesquisador do Laboratório do Movimento Humano da Universidade de Caxias do Sul (LMH-UCS), Caxias do Sul, RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário