Um tratamento desenvolvido por
pesquisadores brasileiros poderá ajudar populações em todo o mundo que sofrem
de bócio, o inchaço da glândula tireoide, causado pela carência crônica de iodo
no organismo.
A equipe liderada pelo
endocrinologista Geraldo Medeiros-Neto, professor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), apresentou um tratamento relativamente
barato em substituição à cirurgia tradicional para a retirada da tireoide.
O custo menor é um fator
importante, considerando que a incidência de bócio se concentra principalmente
em regiões mais carentes do planeta. O caráter social da pesquisa chamou a
atenção da revista Nature Reviews Endocrinology, que destaca o trabalho
do brasileiro.
“A Organização Mundial de Saúde
estima que, em todo o mundo, 2 bilhões de pessoas sofram de deficiência de iodo
e de 20 a 50 milhões apresentem bócios com nódulos. É impraticável operar tanta
gente”, disse Medeiros-Neto, que coordena o projeto Metilação do Gene
Simportador sódio-iodo em Tumores de Tireoide.
Em 2001, sua equipe percorreu 12
estados brasileiros e registrou casos de bócio entre 5% e 10% da população
acima de 50 anos. A partir de dados obtidos pelo levantamento, o grupo estima
que cerca de 2,5 milhões de brasileiros sofram da doença, um número muito
grande para que a cirurgia possa ser adotada como única terapia. A solução foi
procurar métodos mais viáveis de tratamento.
Na primeira etapa do trabalho, os
pesquisadores adotaram a administração oral de iodo radioativo, como meio de
reverter a doença.
“No entanto, percebemos que a
absorção desse metalóide pela tireoide era muito pequena”, disse Medeiros,
explicando que doses mais altas provocavam efeitos colaterais indesejáveis por
causa da elevada radiação no corpo todo.
Como solução, a equipe ministrou
o iodo radioativo precedido por uma injeção do hormônio recombinante de TSH,
que estimula a glândula a absorver o radioiodo. Após o acompanhamento de 42
pacientes nos 3 anos seguintes à terapia, houve uma redução de 60% do
volume dos bócios e mesmo o desaparecimento completo do “inchaço” em alguns
casos.
Um dos pontos fortes do novo
tratamento é o custo, estimado em menos de R$ 300, por paciente. Os
pesquisadores devem agora aperfeiçoar a técnica de modo a melhorar os
resultados.
“Sabemos que o paciente deve
evitar consumir sal iodado precedendo o tratamento. O tratamento também pode
levar ao hipotireoidismo, ou seja, a tireoide deixa de funcionar”, explicou
Medeiros-Neto. Nesse caso, o resultado é similar ao de uma cirurgia de extração
da glândula, porém, o objetivo é o de manter a tireoide ativa e em
condições normais.
Na população mais jovem o
problema é diferente. Desde o fim da década de 1990, a legislação estipulou a
inclusão de iodo no sal de cozinha, o que aumentou o consumo do elemento
químico. Diferentemente da população mais velha, os mais jovens deixaram para
trás a deficiência de iodo. Mas, com o tempo, o que se verificou foi o excesso.
Em diversas regiões do país, os
pesquisadores da FMUSP identificaram em jovens com idades de 6 a 14 anos níveis
de iodo na urina superiores ao valor considerado normal.
A ingestão de iodo em excesso
durante um período prolongado pode provocar entre adultos jovens o aumento das
doenças autoimunes da tireoide, que se manifestam quando o próprio organismo
passa a fabricar anticorpos que destroem a glândula.
Por conta disso, as pesquisas
deverão auxiliar a aferir o teor de iodo presente no sal de cozinha brasileiro.
A legislação de 1998 determinou a adição de 40 a 100 miligramas de iodo para
cada quilo de sal e, em 2003, essa faixa foi ajustada para entre 20 e 60
miligramas/quilo de sal.
No entanto, de acordo com os
trabalhos feitos pelos pesquisadores, entre 20 e 40 miligramas do mineral por
quilo de sal de cozinha já seriam suficientes para evitar o bócio sem provocar
um aumento perigoso nas taxas de iodo no organismo.
Esses resultados serão levados à
Comissão Interinstitucional para o Controle dos Distúrbios por Deficiência de
Iodo do Ministério da Saúde, da qual Medeiros-Neto faz parte.
Fonte: Vila Saúde
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