Ninguém ousa discutir os benefícios da
atividade física, mas quando a mulher engravida não faltam
mães, tias e avós prontas para recomendar vivamente que a futura mamãe pegue bem
leve ou que, no máximo, faça uma caminhadinha. Uma pena. As gestantes podem e
devem tirar proveito dos efeitos positivos dos exercícios. Para elas mexer-se
traz ainda um outro ganho: o risco de um parto prematuro cai pela metade. Isso é
o que revelou um estudo inédito, finalista da segunda edição do Prêmio
SAÚDE!.
Conduzido pelo professor de educação física
Marlos Domingues na Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, ele
avaliou o perl de absolutamente todas as mulheres que deram à luz naquela cidade
gaúcha em 2004 algo em torno de 4 mil mães. A proporção de partos antes do
programado foi menor entre aquelas que se exercitaram durante toda a gestação e,
principalmente, no terceiro trimestre, justamente o período em que as
grávidas costumam reduzir o ritmo.
Enquanto alguns fatores de risco para a
prematuridade vêm diminuindo caso do tabagismo , outros aumentam
assustadoramente. Para se ter uma idéia, só na cidade de Pelotas, a incidência
de hipertensão na gravidez pulou de 5,3% em 1982 para 23,9% em
2004 e a ocorrência de diabete gestacional aumentou dez vezes
no mesmo período. E esses fatores, junto com a obesidade, podem ser minimizados
com a atividade física, lembra Marlos Domingues para justicar o achado. Ele e
seus colegas, porém, se aprofundam muito mais na investigação. Por isso mesmo,
mães e lhos continuam sendo avaliados de tempos em tempos de 2004 para cá.
Os estudiosos gaúchos querem saber se as mulheres que foram
gestantes ativas perderam peso mais rápido ao sair da maternidade, se correram
um risco menor de depressão pós-parto e se o desenvolvimento neuromotor e
psicológico de seus lhos é diferente do dos bebês nascidos de gestantes
sedentárias. Ou seja, essa pesquisa poderá comprovar muitos outros benefícios do
esporte na gravidez.
Antes de mais nada, que fique bem claro: cada grávida é uma
grávida e a última palavra é sempre do obstetra. Só ele pode dizer o que a
paciente tem condições de fazer. Mas, com o sinal verde, a gestante ganha, e
muito, se largar o sedentarismo. Engorda menos, não sofre tanto com dores nas
costas e nas pernas graças ao fortalecimento da musculatura, tem menos risco de
desenvolver diabete gestacional e hipertensão. Isso sem contar a melhora no
condicionamento e no alongamento, o que facilita por tabela o trabalho de parto.
Aliás, um mito precisa ser derrubado: longe de se tornar mais frágil, a futura
mãe vira uma espécie de supermulher. Ela tem mais sangue em circulação, ganha
flexibilidade, alguns sentidos se aguçam. Tanto que a gravidez é considerada uma
espécie de doping no meio esportivo, compara Marlos Domingues. Em princípio não
há nenhuma contraindicação para os exercícios nessa etapa da vida.
E isso vale até para as sedentárias inveteradas. Mas, para
elas, por se tratar de um período de intensa adaptação do
organismo, vale mais do que nunca a regra de começar aos poucos e fazer uma
atividade mais leve, como natação, hidroginástica, ioga ou caminhada, lembra
Nilka Donadio, ginecologista e obstetra da Sociedade Brasileira de Reprodução
Humana. E, nesse caso específico, os médicos são praticamente
unânimes: as mulheres sedentárias só devem dar a largada após o terceiro mês de
gestação, quando o embrião já se implantou. Aí há menos risco de aborto,
justifica o ginecologista e obstetra Claudio Bonduki, da Universidade Federal de
São Paulo.
Quanto às grávidas que já eram assíduas de
quadras e academias, só precisam fazer um ajuste no ritmo e na
intensidade mas em geral podem manter todas as modalidades com as quais estavam
habituadas, até mesmo corrida. A intensidade é que deve ser inversamente
proporcional ao tempo da gestação, nota o ortopedista Ricardo
Cury, da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, lembrando que no fim da
gravidez o barrigão pode, sim, incomodar e pesar, inclusive sobre as
articulações.
O fato é que carregar de 10 a 15 quilos a
mais, sofrer com inchaços, insônia e ainda ter que lidar com as oscilações de
humor pode não ser nada fácil por mais que se pregue que é esse o tal momento
mágico na vida de toda mulher. Não há uma pílula para combater
esses transtornos típicos do período, diz Marlos Domingues. Os exercícios, sim,
é que podem ser um santo remédio.
A atividade física sempre fez parte da rotina
da administradora de empresas paulistana Regina Acher, de 34 anos, que hoje
trabalha no mercado financeiro. As sessões incluíam ginástica
localizada, pilates, alongamento e transport. “Quando engravidei, até tentei
adaptar os exercícios, mas acabei optando pelo deep running”, conta,
referindo-se à corrida praticada com equipamentos especiais dentro da água. Além
disso, Regina faz uma musculação leve, somando umas seis ou sete horas semanais
de atividade. Sinto que isso ajuda a controlar o inchaço e até
a ansiedade, nota ela, que espera a pequena Nina para fevereiro.
Fonte: Abril
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