quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Memória

       
Esquecer um número de telefone, o que almoçou na semana passada ou onde anotou um endereço importante é normal. Entretanto, colocar a culpa desses esquecimentos na memória nem sempre está correto. Muitas vezes o problema é a falta de atenção.
 
Memória

“A memória é uma forma de registrar informações, como se fosse um arquivo e, como todo processo de arquivamento, exige atenção”, define dr. Fábio Nasri, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE).
No livro Questões sobre memória, o médico Iván Izquierdo, do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), define memória como a aquisição, conservação e evocação de informações. O aprendizado é a aquisição dos dados e as lembranças são a evocação do que foi armazenado; logo, o esquecimento é a falta de evocação.
Para absorver e registrar informações que possam ser lembradas é preciso estar atento. As informações absorvidas com atenção são julgadas como úteis pelo cérebro e, por isso, armazenadas.

Mecanismos de funcionamento

A memória é um processo complexo que utiliza os cinco sentidos para captar informações e envolve diferentes habilidades e estágios. Falhas em qualquer uma das etapas pode resultar na perda da informação.
  • Atenção: habilidade de estar atento para absorver as informações.
  • Registro / Codificação: registro inicial da informação, assim que é recebida pelo cérebro. Nesse estágio é determinado se o dado será armazenado ou não e isso vai depender da atenção despendida e do quanto a informação é significativa.
  • Armazenamento: se a informação foi registrada, ficará armazenada na memória de longo prazo.
  • Consolidação: processo de utilização da informação que foi armazenada. Caso um dado não seja utilizado com frequência, será descartado pelo cérebro.
  • Evocação / Lembrança: resgate da informação, seja voluntariamente ou porque se fez necessária em algum momento.

A cada informação, uma memória.

É possível classificar a memória de duas formas.

De acordo com a duração da informação:

  • Memória de trabalho
    Estágio inicial que depende da atenção, dura pouco tempo depois de terminado o evento a que se refere. É utilizada para guardar um número de telefone enquanto está sendo discado. Logo depois, o número é descartado pelo cérebro.
  • Memória de curta duração ou recente
    O cérebro armazena a informação tempo suficiente para que ela seja utilizada – isso pode corresponder a minutos, horas e até dias. A informação guardada pode ser algo lido no jornal, por exemplo.
  • Memória de longa duração
    Responsável pela lembrança de episódios ou fatos que aconteceram no passado, também é chamada de memória autobiográfica.

De acordo com o conteúdo da informação ou a função:

  • Memória prospectiva
    Dá a capacidade de lembrar o que deve ser feito no futuro e exige planejamento. Com essa memória é possível saber que há uma reunião marcada para as sete horas.
  • Memória verbal
    Lembrança de eventos que envolvem palavras como, por exemplo, uma história contada por alguém ou a letra de uma música.
  • Memória Visual
    Utilizada para lembrar de figuras ou imagens.
  • Memória de procedimento
    Envolve a lembrança de um procedimento associado a uma habilidade motora ou hábito, como andar de bicicleta, nadar ou dirigir.

Falhas frequentes

Em geral, os problemas de memória começam a se apresentar depois dos 60 anos. Nas pessoas mais jovens, as falhas frequentes estão relacionadas a outros problemas, como distúrbios do sono ou déficit de atenção. “Quem dorme mal, pode mostrar-se mais irritado e com menor capacidade de concentração durante o dia, o que vai incidir diretamente na memória”, explica Camila Prade, neuropsicóloga do Centro de Reabilitação do HIAE.
Segundo a neuropsicóloga, a atenção é uma das funções mentais mais atingidas em casos de estresse, depressão, ansiedade e fadiga e, por consequência, os problemas começam a aparecer na memória. “Quando lidamos com muitas informações, nosso cérebro prioriza algumas e descarta outras, assim detalhes como ‘onde está a chave do carro’ podem ser esquecidos e confundidos com problemas de memória”, completa.

Doenças degenerativas

Desde o nascimento, o ser humano perde e repõe neurônios – células nervosas responsáveis pela produção e condução dos estímulos. Com o envelhecimento, a capacidade de reposição dessas células diminui. “Os resultados são as primeiras falhas de memória, como o esquecimento de fatos recentes e nomes”, explica o dr. Nasri.
Nas pessoas mais jovens, as falhas estão relacionadas a problemas, como distúrbios do sono ou déficit de atenção
O aumento da expectativa de vida acarretou mais casos de doenças degenerativas cerebrais. A principal delas é o mal de Alzheimer, o tipo mais frequente de demência, caracterizado pela perda progressiva das funções intelectuais.
Segundo o dr. Nasri, os primeiros sinais da doença se manifestam por meio da perda de memória. Os familiares devem estar atentos quando o idoso passa a esquecer nomes e fisionomias com muita frequência, além de compromissos e datas. Outros sinais são falta de assunto e iniciativa, incapacidade de manter um diálogo e respostas monossilábicas.

Memória afiada

Para manter a memória saudável e eficaz é preciso começar a treinar desde cedo. E não basta ler livros ou jornais, é preciso também dialogar, expor opiniões. “Durante a atividade argumentativa, o cérebro é requisitado para opinar e replicar, assim a argumentação é fundamental para a memória. Ao ler um livro, a pessoa pode apenas guardar a informação sem discuti-la, o que não tem o mesmo efeito no cérebro”, afirma o geriatra.
Algumas orientações para quem quer manter a memória afiada:
  • Alimentação saudável, com baixo teor de gordura para prevenir doenças vasculares;
  • Prática de atividades físicas;
  • Estilo de vida menos estressante;
  • Boa qualidade de sono;
  • Estímulo da atividade mental com hobbies e leituras;
  • Organização de compromissos;
  • Intervalos frequentes entre as atividades para garantir melhor nível de concentração.

Tratamentos

Quando as falhas na memória tornam-se frequentes e passam a atrapalhar seriamente o cotidiano, é preciso buscar a ajuda de um especialista. Não é possível prevenir os problemas de memória com medicação, mas já existem medicamentos que atrasam a evolução de doenças degenerativas. “Nos próximos cinco anos teremos novidades em remédios para os problemas de memória, um dos males mais pesquisados hoje ”, afirma o dr. Nasri.
O Hospital Israelita Albert Einstein oferece uma avaliação neuropsicológica, muito importante no diagnóstico dos problemas que podem levar a falhas de memória. “Trata-se de um exame que investiga o funcionamento mental por meio de testes relativos às várias funções, como atenção e raciocínio lógico”, explica Camila Prade.
O tratamento é feito por meio da reabilitação neuropsicológica, que treina as funções afetadas e visa criar novas estratégias para compensar as funções prejudicadas. “Utilizamos estratégias compensatórias bastante eficazes, como o treinamento para uso de agenda”, explica a neuropsicóloga. A família também recebe orientação para aprender a conviver com as novas limitações do paciente.

Fonte:. Dr.Fábio Nasri

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